Falar mal de alguém parece coisa insignificante,
corriqueira, todo mundo faz, mas...
se eu falo mal de alguém,
verbalmente ou por outros meios;
se você fala mal de alguém;
se nós falamos mal de alguém,
esse alguém de quem falamos mal a
outro alguém pode tomar uma dessas atitudes:
- concordar, apoiar e até
divulgar o que ouviu.
- ficar em silêncio, censurando-o
com o seu silêncio; o assunto morre ali, não passa adiante.
- corrigir o irmão que fala mal,
corrigir na hora.
- vamos os dois até a pessoa
objeto da difamação para certificar-nos da verdade na fonte.
No primeiro caso, estou fazendo o papel do diabo, levando a
pessoa a concordar comigo, o que é pecado de escândalo. Eu peco e levo outro a
pecar comigo. Escândalo é exatamente isto: levar uma pessoa ao pecado com
palavras, comportamentos e modas inconvenientes.
Se o falatório, murmuração ou maledicência for divulgado, eu
serei responsável também pelo pecado de todas as demais pessoas que se
simpatizaram. É um pecado em série, e por todos estes pecados eu serei
responsável perante Deus. Mesmo que eu me arrependa e procure o sacramento do
perdão, o meu pecado só será perdoado se eu procurar cada uma das pessoas
envolvidas, pedir perdão e pedir que, por sua vez, vá procurar o perdão de Deus
no Sacramento da Confissão, e o mesmo faça ela, se levou mais alguém por este
mau caminho.
Pode acontecer que a maledicência se espalhou de tal maneira
que não se tem condições de reparar o mal. É como soltar as penas de um
travesseiro do alto de um edifício em dia de grande ventania e depois descer para
recolhê-las todas. Como vou reparar o pecado que, por minha culpa, muitas
outras pessoas cometeram? Há alguma saída? - Há, sim. Pedir a Deus que abençoe
e ilumine todas as pessoas atingidas pela maledicência da qual eu fui a fonte.
Rezar por elas, fazer penitências e multiplicar as obras de caridade corporais
e espirituais. Faça orações, sacrifícios e penitências para que Deus toque o
coração dessas pessoas e também elas se reconciliem com Deus.
Divulgar os erros supostos ou reais dos outros é como
cometer, em certo sentido, um homicídio; é ferir e até matar a pessoa em sua fama,
obrigando-a até a mudar de lugar. O sétimo mandamento condena isso.
Desmoralizar, “revelar a má conduta, caráter ou intenção de
alguém” é um pecado no qual, se a gente cai, o diabo fica feliz porque
estaremos fazendo o seu trabalho. Ele aplaude. É isto que ele quer. Ele fica
sentado de braços cruzados vendo feliz - de uma felicidade infernal - vendo
você a fazer o trabalho dele.
Certa vez Jesus chamou o apóstolo Pedro de Satanás. Por quê?
Em determinada ocasião falava Jesus a seus discípulos que precisava ir a
Jerusalém e ali sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes
e dos escribas, ser morto e ressuscitar ao terceiro dia.
Ouvindo essas palavras, o apóstolo Pedro começou a dizer: “Senhor,
Deus não permita isto! Isto não te acontecerá”. Pedro, sem saber, estava
fazendo o papel do demônio, tentando Jesus, levando-o a não obedecer a Deus que
o enviou ao mundo para salvar a humanidade, morrendo pregado na cruz. Sem este
sacrifício de Jesus, o plano de Deus não se realizaria e Pedro, sem se dar
conta, queria anular a decisão de Deus. Toda a vida de Jesus estava orientada
para esta hora e aí Pedro, vendo Jesus entristecido e querendo animá-lo, lhe
diz: “Senhor, Deus não permita isto! Isto não te acontecerá”. Jesus, voltando-se
para ele, disse-lhe: “Os teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens;
afasta-te, Satanás, tu és para mim um escândalo”, isto é, queres me levar ao
pecado, queres que eu vá contra a vontade de Deus, não realizando o seu desejo,
razão da minha vinda neste mundo.
Toda vez que escandalizamos alguém, estamos fazendo o papel
de Satanás. É o escândalo ou pedra de tropeço: coloca-se uma pedra no caminho
de uma pessoa para que ela tropece e caia.
Cometendo deliberadamente pecados veniais, a nossa amizade
com Deus não é perfeita. Ora, existe amizade imperfeita? Ou ela é perfeita ou
não é amizade.
Quando falamos bem dos outros,
somos benditos.
Quando falamos mal dos outros,
somos malditos.
O que é bendizer? É dizer bem.
O que é maldizer? É dizer mal.
O apóstolo Tiago diz-nos na sua carta (na sua comunidade
devia haver muitos mexeriqueiros, bisbilhoteiros): “Se alguém julga que é
religioso, não refreando a sua língua, mas seduzindo o seu coração, a sua
religião é vã” (Tg 1, 26).
Logo adiante ele diz: “Se alguém não peca em palavras, este
é um homem perfeito, capaz de suster com freio todo o corpo. Com efeito, quando
pomos o freio na boca dos cavalos, para que nos obedeçam, também governamos
todo o seu corpo” (Tg 3, 2-3).
Ele ainda insiste: “Vede também as naus, ainda que sejam
grandes e se achem agitadas de ventos impetuosos, com um pequeno leme se voltam
para onde quiser o impulso do que as governa. Assim também a língua é um
pequeno membro, mas pode gloriar-se de grandes coisas. Vede como um pouco de
fogo incendeia um grande bosque! Também a língua é um fogo, um mundo de
iniquidade. A língua está entre os nossos membros e contamina todo o corpo e
inflama todo o nosso viver, sendo ela mesma inflamada pelo inferno. Todas as
espécies de alimárias se domam, porém a língua nenhum homem a pode domar; mal
inquieto, cheia de veneno mortífero. Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela
amaldiçoamos os homens que foram feitos à semelhança de Deus. Da mesma boca
procede a bênção e a maldição. Se alguém não peca em palavras, este é um homem
perfeito” (Tg 3, 4-10).
O Papa Francisco recordou que uma vez, na diocese em que
estava antes, ouviu um comentário interessante e belo. “Falava-se de uma idosa
que por toda a vida tinha trabalhado na paróquia, e uma pessoa que a conhecia
bem, disse: “Esta mulher nunca falou mal dos outros, nunca fofocou, sempre
estava com um sorriso. Uma mulher assim pode ser canonizada amanhã”.
Em uma comunidade cristã, a divisão é um dos pecados mais
graves, porque se torna sinal não da obra de Deus, mas da obra do diabo, que é,
por definição, aquele que separa, que arruína as relações, que insinua
preconceitos.
Deus, em vez disso, “quer que cresçamos na capacidade de nos
acolhermos, de nos perdoarmos e de nos querermos bem, para nos assemelharmos
sempre mais a Ele, que é comunhão e amor. Nisto está a santidade da Igreja: em
reconhecer-se imagem de Deus, repleta da sua misericórdia e da sua graça” (Papa
Francisco).
Nunca fale que a paróquia está dividida, porque você pode
ser uma das pessoas que provoca essa divisão. Quem fala em divisão e nada faz
pela união e comunhão é um irresponsável.
UMA HISTÓRIA
Um frade havia caído em pecado. O padre ordenou-lhe que se
afastasse da Igreja. Então, Bessarião, o abade, levantou-se e saiu junto com o
frade, dizendo: “Também eu sou pecador”.
E ainda:
O abade Isaque chegou certa vez a um mosteiro dos frades da
Tebaida, viu um frade que havia cometido um pecado e pronunciou uma sentença
contra ele. Tendo, logo depois, voltado ao deserto, veio o anjo do Senhor,
parou diante da porta de sua cela e disse-lhe:
- Não o deixo entrar.
E Isaque:
- Por qual motivo?
Como resposta, o anjo lhe disse:
- Deus mandou-me perguntar-lhe aonde quer que ele mande
aquele frade que você hoje expulsou.
Imediatamente o abade fez penitência, exclamando:
- Pequei, perdão!
E o anjo:
- Levante-se. Deus o perdoa, mas de hoje em diante seja
vigilante e não julgue ninguém, antes que ele tenha sido julgado por Deus.
(Citado em “Evangelhos que incomodam” - Alexandre Fronzato)