Antigamente,
isto é, antes do Concílio Vaticano II, a celebração da Santa Missa era em
latim. A única coisa em língua vernácula era a leitura do Evangelho do dia que
o celebrante proferia do púlpito antes da homilia, que o povo ouvia em pé. A
primeira leitura e o Evangelho já tinham sido feitas, em latim. De fato, o
sacerdote fazia as leituras para si.
Eram os
tempos. Tudo parecia normal. Falava-se em assistir a missa, em vez de participar.
A única coisa da qual o povo participava eram os cantos, a coleta e a comunhão.
Por outro
lado, o respeito com que o povo participava da Missa era profundo. Os cantos
eram executados por um grupo de cantores; sustentado por um harmônio, o povo
acompanhava. Ouvia-se a voz do povo porque não havia microfones. O próprio
sacerdote usava do púlpito, donde via toda a assembleia e esta o sacerdote,
porque ficava a quase um metro de altura acima do assoalho. O povo, embora não
sabendo muito bem o que acontecia no altar, voltava para sua casa reconfortado.
Quanta gente se santificou com essas santas Missas.
Conta-nos
Santa Teresinha do Menino Jesus, em sua autobiografia, que voltando para casa
com seu pai depois de ter “assistido” a Missa, eles conversavam sobre o que
disse o sacerdote no sermão. Havia as missas simples sem cantos, com cânticos,
e as solenes nas grandes festas litúrgicas.
O povo
acompanhava a celebração rezando o Terço e algumas pessoas, com o missal na mão,
acompanhavam a tradução do latim enquanto a missa se desenvolvia. Talvez alguém
possa até rir desse jeito de celebrar e participar “assistindo”. Alguns deles
não sabiam ler. Notava-se, porém, que o povo voltava reconfortado para sua
casa, sentindo o bem-estar que lhe causou a celebração. A sua fé era sincera na
hospitalidade e na caridade.
E hoje, como
é a celebração eucarística? Como o povo participa dela? Antes não entendiam
nada porque a missa era em latim. Hoje é em nossa língua, mas parece que não
entendem nada. Não se vê mudança para melhor, não se vê progresso. Como o povo
participa dela? Escrevo como a vejo:
O povo vai
chegando e parece que não reza mais. Alguns poucos vão até a Capela do
Santíssimo, mas a maioria fica nos bancos esperando simplesmente a cerimônia
começar. Outros chegam atrasados. Começa um murmúrio, murmúrio de conversas que
nada tem a ver com a celebração, murmúrio que, às vezes, vai aumentando a ponto
de se pensar que as pessoas vieram sim, assistir, e algumas delas a participar
de uma representação teatral da última ceia, na qual são atores o sacerdote, os
ministros, os coroinhas, comentaristas, leitores, cantores, instrumentistas e o
povo também. Lembremos, a missa não é mais em latim.
Começa o
canto de entrada com os músicos e seu dirigente, que procuram animar o povo a cantar,
bater palmas e, em alguns lugares, até rebolar. Cantores com o microfone em
punho encobrem a voz do povo que canta. Os leitores se esforçam por fazer bem
as leituras, os ministros e coroinhas desempenham bem a sua função.
Chega a hora
da Comunhão e praticamente todos vão recebê-la. Sabe-se que, para receber a
Sagrada Comunhão, um dos requisitos é estar em estado de graça, isto é, sem
pecados graves, aliás, o primeiro requisito. Percebe-se que certas pessoas
recebem em sua mão o Pão Eucarístico com displicência, indiferença, como se a Comunhão
não fosse outra coisa que receber a hóstia.
Talvez haja
quem entenda o ato penitencial como pedido de perdão dos pecados e concessão total
do perdão, porque o celebrante diz textualmente: “Deus todo-poderoso tenha
compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna”. O
pedido de perdão no ato penitencial é para aqueles pecados leves que
diariamente cometemos mais por fraqueza do que conscientemente deliberados.
No fim da
missa é aquele falatório na igreja e na sacristia: grupos de pessoas
conversando alto e, às vezes, mais do que isso. Acabou a função, acabou o
teatro, tecem-se elogios para os que desempenharam bem o seu papel: os cantos
estavam bonitos, os instrumentos afinados, os coroinhas eram uma graça, a
igreja estava bem enfeitada. Parabéns a todos os artistas. Os que comungaram,
embora levem em si ainda a Presença Eucarística, ela é simplesmente esquecida,
ignorada, tremenda falta de educação. Quase todos voltam para suas casas assim como
vieram: vazios.
A igreja
deixou de ser casa de oração, tornou-se casa de encontro entre amigos, como se
estivessem numa rua ou numa praça; o povo continua ignorante na fé que diz ter;
com facilidade pode resvalar para outra religião ou seita, mais ignorante do
que antes.
Na missa em
latim, a celebração era de fato um mistério; o povo acompanhava em silêncio
profundo tudo o que se realizava no altar. Os coroinhas substituíam o povo nas
respostas às saudações e convites do celebrante: “Introibo ad altere Dei... Dominus vobiscum... orate fratres... sursum
corda...”. Os cantores cantavam cantos em latim, como a Ladainha de Nossa
Senhora. Os coroinhas aprendiam de cor
tudo o que deviam fazer e dizer. Os coroinhas passavam por alguns dias de
aprendizado, sendo-lhe dada a tradução dos textos que aprendiam de cor.
TODOS os que
comungavam faziam a confissão antes. As confissões eram sempre nos sábados à
tarde. No primeiro domingo do mês, a missa era das crianças que fizeram sua
primeira comunhão aos 7-8 anos; o segundo domingo era o das Filhas de Maria; o
terceiro, dos Marianos; o quarto ao Apostolado da Oração e outras associações
menores.
Hoje, todo
mundo comunga e praticamente ninguém se confessa. Dos sete sacramentos da
Igreja, dois praticamente caíram em desuso: a Confissão e o Matrimônio. A
instrução dos católicos é tão falha que a maioria dos anciãos e doentes morre
sem receber os sacramentos. Não se diga que a responsabilidade é dos padres,
que procuram fazer a sua parte. Quem deve catequizar e evangelizar a família
são os pais; quem deve ser o bom fermento na massa do mundo são os cristãos com
o seu testemunho de vida. A maioria das crianças que faz a Primeira Comunhão e
depois a Crisma, simplesmente desaparece da igreja e os pais não fazem muita
questão.
A maioria do
povo hoje é alfabetizada; se não fez o curso superior, pelo menos o
fundamental. Tem, portanto, condições de ler a Bíblia e de conhecer melhor a
religião. Parece que isso não acontece, a ponto de o Papa Bento XVI dizer: “A ignorância
do povo cristão chegou a um grau espantoso”. Tenho saudade da Missa em latim.
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