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quinta-feira, 28 de julho de 2016

A Missa de ontem - a Missa de hoje

Antigamente, isto é, antes do Concílio Vaticano II, a celebração da Santa Missa era em latim. A única coisa em língua vernácula era a leitura do Evangelho do dia que o celebrante proferia do púlpito antes da homilia, que o povo ouvia em pé. A primeira leitura e o Evangelho já tinham sido feitas, em latim. De fato, o sacerdote fazia as leituras para si.

Eram os tempos. Tudo parecia normal. Falava-se em assistir a missa, em vez de participar. A única coisa da qual o povo participava eram os cantos, a coleta e a comunhão.

Por outro lado, o respeito com que o povo participava da Missa era profundo. Os cantos eram executados por um grupo de cantores; sustentado por um harmônio, o povo acompanhava. Ouvia-se a voz do povo porque não havia microfones. O próprio sacerdote usava do púlpito, donde via toda a assembleia e esta o sacerdote, porque ficava a quase um metro de altura acima do assoalho. O povo, embora não sabendo muito bem o que acontecia no altar, voltava para sua casa reconfortado. Quanta gente se santificou com essas santas Missas.

Conta-nos Santa Teresinha do Menino Jesus, em sua autobiografia, que voltando para casa com seu pai depois de ter “assistido” a Missa, eles conversavam sobre o que disse o sacerdote no sermão. Havia as missas simples sem cantos, com cânticos, e as solenes nas grandes festas litúrgicas.

O povo acompanhava a celebração rezando o Terço e algumas pessoas, com o missal na mão, acompanhavam a tradução do latim enquanto a missa se desenvolvia. Talvez alguém possa até rir desse jeito de celebrar e participar “assistindo”. Alguns deles não sabiam ler. Notava-se, porém, que o povo voltava reconfortado para sua casa, sentindo o bem-estar que lhe causou a celebração. A sua fé era sincera na hospitalidade e na caridade.

E hoje, como é a celebração eucarística? Como o povo participa dela? Antes não entendiam nada porque a missa era em latim. Hoje é em nossa língua, mas parece que não entendem nada. Não se vê mudança para melhor, não se vê progresso. Como o povo participa dela? Escrevo como a vejo:

O povo vai chegando e parece que não reza mais. Alguns poucos vão até a Capela do Santíssimo, mas a maioria fica nos bancos esperando simplesmente a cerimônia começar. Outros chegam atrasados. Começa um murmúrio, murmúrio de conversas que nada tem a ver com a celebração, murmúrio que, às vezes, vai aumentando a ponto de se pensar que as pessoas vieram sim, assistir, e algumas delas a participar de uma representação teatral da última ceia, na qual são atores o sacerdote, os ministros, os coroinhas, comentaristas, leitores, cantores, instrumentistas e o povo também. Lembremos, a missa não é mais em latim.

Começa o canto de entrada com os músicos e seu dirigente, que procuram animar o povo a cantar, bater palmas e, em alguns lugares, até rebolar. Cantores com o microfone em punho encobrem a voz do povo que canta. Os leitores se esforçam por fazer bem as leituras, os ministros e coroinhas desempenham bem a sua função.

Chega a hora da Comunhão e praticamente todos vão recebê-la. Sabe-se que, para receber a Sagrada Comunhão, um dos requisitos é estar em estado de graça, isto é, sem pecados graves, aliás, o primeiro requisito. Percebe-se que certas pessoas recebem em sua mão o Pão Eucarístico com displicência, indiferença, como se a Comunhão não fosse outra coisa que receber a hóstia.

Talvez haja quem entenda o ato penitencial como pedido de perdão dos pecados e concessão total do perdão, porque o celebrante diz textualmente: “Deus todo-poderoso tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna”. O pedido de perdão no ato penitencial é para aqueles pecados leves que diariamente cometemos mais por fraqueza do que conscientemente deliberados.

No fim da missa é aquele falatório na igreja e na sacristia: grupos de pessoas conversando alto e, às vezes, mais do que isso. Acabou a função, acabou o teatro, tecem-se elogios para os que desempenharam bem o seu papel: os cantos estavam bonitos, os instrumentos afinados, os coroinhas eram uma graça, a igreja estava bem enfeitada. Parabéns a todos os artistas. Os que comungaram, embora levem em si ainda a Presença Eucarística, ela é simplesmente esquecida, ignorada, tremenda falta de educação. Quase todos voltam para suas casas assim como vieram: vazios.

A igreja deixou de ser casa de oração, tornou-se casa de encontro entre amigos, como se estivessem numa rua ou numa praça; o povo continua ignorante na fé que diz ter; com facilidade pode resvalar para outra religião ou seita, mais ignorante do que antes.

Na missa em latim, a celebração era de fato um mistério; o povo acompanhava em silêncio profundo tudo o que se realizava no altar. Os coroinhas substituíam o povo nas respostas às saudações e convites do celebrante: “Introibo ad altere Dei... Dominus vobiscum... orate fratres... sursum corda...”. Os cantores cantavam cantos em latim, como a Ladainha de Nossa Senhora.  Os coroinhas aprendiam de cor tudo o que deviam fazer e dizer. Os coroinhas passavam por alguns dias de aprendizado, sendo-lhe dada a tradução dos textos que aprendiam de cor.

TODOS os que comungavam faziam a confissão antes. As confissões eram sempre nos sábados à tarde. No primeiro domingo do mês, a missa era das crianças que fizeram sua primeira comunhão aos 7-8 anos; o segundo domingo era o das Filhas de Maria; o terceiro, dos Marianos; o quarto ao Apostolado da Oração e outras associações menores.

Hoje, todo mundo comunga e praticamente ninguém se confessa. Dos sete sacramentos da Igreja, dois praticamente caíram em desuso: a Confissão e o Matrimônio. A instrução dos católicos é tão falha que a maioria dos anciãos e doentes morre sem receber os sacramentos. Não se diga que a responsabilidade é dos padres, que procuram fazer a sua parte. Quem deve catequizar e evangelizar a família são os pais; quem deve ser o bom fermento na massa do mundo são os cristãos com o seu testemunho de vida. A maioria das crianças que faz a Primeira Comunhão e depois a Crisma, simplesmente desaparece da igreja e os pais não fazem muita questão.


A maioria do povo hoje é alfabetizada; se não fez o curso superior, pelo menos o fundamental. Tem, portanto, condições de ler a Bíblia e de conhecer melhor a religião. Parece que isso não acontece, a ponto de o Papa Bento XVI dizer: “A ignorância do povo cristão chegou a um grau espantoso”. Tenho saudade da Missa em latim.
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