A oração
pessoal e a oração comunitária se complementam. Nenhuma das duas é perfeita
sozinha. Uma precisa da outra para dar frutos.
Nós temos dois santuários: um santuário
imóvel, que concentra os santuários móveis. O santuário imóvel é a igreja. O
santuário móvel é cada um de nós. É uma espécie de “santo dos santos”, onde só
nós podemos entrar. É o nosso Santuário particular, onde entronizamos Deus e aí
nos recolhemos todos os dias para estarmos com o Senhor, para falar, mas,
sobretudo, para ouvir; e Deus tem tanta coisa bonita para nos dizer!
Este santuário íntimo, interior, é nosso,
pessoal, inviolável, e somos nós que determinamos quem vai ocupar o altar;
somos nós que determinamos a que Deus vamos adorar, amar e servir.
Já podemos imaginar que muitos destes
santuários são habitados por ídolos, deuses falsos que poderíamos dizer, se
resumem a sete, conforme os vícios capitais:
1. O deus da soberba: é o próprio ser humano que se auto-diviniza e
se coloca no altar que deveria ser do único e verdadeiro Deus.
2. O deus da avareza e da ganância: o altar é
ocupado por um cofre de dinheiro, com muito dinheiro, dando ao que o possui
aquela sensação de segurança.
3. O deus da luxúria, que proporciona a quem
o adora, toda espécie de reprováveis prazeres, sobretudo os da carne.
4. O deus da ira, que se compraz em ver seus adoradores dando vazão
ao ódio, à vingança, à destruição e à morte, por palavras e ações.
5. O deus da gula, aparentemente inofensivo,
cujo condão é satisfazer todos os apetites, até a saciedade, não apenas os do
paladar.
6. O deus da inveja, que não tolera alguém
ser mais ou ter mais, que faz de tudo para provocá-la nos outros, deus que se
entristece enquanto numa família ou numa comunidade não coloca uns contra os
outros fazendo as pessoas viverem uma vida de inferno antecipado, encontrando
nisto o seu gozo.
7. Enfim, o “simpático” deus da preguiça. Não
tanto a preguiça que leva a pessoa a nada fazer, mas aquela que leva ao
comodismo espiritual. Quando se trata de Deus de verdade, da Igreja, do serviço
ao próximo, ai que canseira! Em muitos santuários estão entronizados estes
deuses.
Mas há também aqueles santuários que não
têm deus algum. Tais santuários estão entregues às aranhas que neles tecem suas
teias, santuários entregues ao pó e aos morcegos, santuários em que, por fora e
por dentro, o capim toma conta.
No santuário do nosso coração, sem dúvida,
está Deus, porque queremos que Ele reine sobre nós. Mas, nós mesmos, quantas
vezes fomos infiéis a Deus. Quantas vezes, para satisfazer o nosso desejo de
pecado, dissemos a Deus: por favor, meu Deus, desce daí um pouquinho, eu quero
colocar o deus da ira, da inveja, da soberba, da preguiça para me divertir. O
Senhor é um Deus que só pede renúncias, ao passo que os outros deuses me dão prazeres
e satisfações já aqui e agora, enquanto o Senhor nos promete, sim, as
verdadeiras alegrias, como diz, mas num longínquo futuro. Depois, meu Deus, eu
me arrependo e, de novo, o Senhor poderá ocupar o altar no santuário do meu
coração.
As nossas faltas veniais e os pecados que
cometemos inconsideradamente são um sinal não apenas da nossa natureza propensa
ao mal, como também da nossa falta de boa vontade para combater o mal que
existe em nós. As faltas veniais e os pecados cometidos sem pensar são sinais
de maus hábitos inveterados em nós. Isto não é bom sinal. Seja como for, o
santuário do nosso coração é o lugar do nosso encontro com Deus em oração
pessoal. Neste santuário podemos entrar na hora em que quisermos e ali ficarmos
o tempo que acharmos melhor.
A oração pessoal é, sem dúvida necessária,
pois além do mais ela é a base da oração comunitária. Nesta oração, Deus se nos
dá a conhecer. Nesta oração Deus também nos faz perguntas e espera as nossas
respostas e, com base nelas e de acordo com a nossa disponibilidade e
generosidade, nos chama e nos envia, confiando-nos uma missão. Quem tem medo de
se colocar à disposição de Deus, os acomodados, esquivam-se. Quem reza sozinho,
sente a necessidade de rezar com os outros; percebe que a sua oração não será
completa sem a oração dos outros. Por isso, procura não apenas um grupo de
oração, mas a igreja mais próxima para unir-se à oração da grande assembleia.
Ali, a oração adquire a sua plenitude. Ali, quem reza, sente-se bem.
Agora, a oração comunitária sem a oração
pessoal é vazia, como vazia é a oração pessoal que não tende para a
oração comunitária. A grande oração comunitária, na qual nós oramos como
Igreja, Corpo Místico de Jesus, é a Santa Missa, porque nesta oração nós nos
unimos a Cristo e Cristo faz Sua a nossa oração. Na Missa a nossa oração fica
perfeita, porque Jesus, assumindo a nossa oração como Cabeça deste Corpo,
torna-a perfeita e, portanto, do perfeito agrado do Pai. Então, quem
verdadeiramente reza, quem não faz da sua oração pessoal uma espécie de
obrigação, ou uma repetição de palavras decoradas, ditas maquinalmente e
distraidamente, quem verdadeiramente reza, procura com frequência semanal a
igreja.
Pela participação na Missa dominical
podemos ver como muito pouca gente reza de verdade, porque no altar íntimo do
santuário do seu coração estão outros deuses, ou o trono do verdadeiro Deus é
dividido com ídolos. A oração pessoal leva à oração comunitária e ambas se
enriquecem mutuamente, elevando a pessoa até Deus, sempre mais perto dele, e
aproximando-a sempre mais perto de seus irmãos.
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