O Padre que
celebra a Santa Missa leva as pessoas a se encontrar em Deus. O exterior de
cada um deve manifestar o que se passa no interior. No interior, a pessoa se
encontra com Deus visível aos olhos da fé, ouve-o, fala com ele, pede perdão,
agradece, pede graças para os outros e para o mundo. Ela não pede nada para si,
mas Deus, que contempla o seu desprendimento, cumula-a de alegria, daquela
alegria que cada um pode experimentar, mas não sabe explicar. Cada pessoa que
busca a Deus faz a sua experiência pessoal.
Na Missa,
que é um encontro com Deus, depois das apresentações pessoais e humilhação
diante de Deus pelos pecados e miséria humana, canta-se o hino em que se
glorifica a Deus uno e trino, hino que se conclui com uma oração que cada
pessoa faz no silêncio do seu coração. Depois, o sacerdote celebrante coleta os
pedidos íntimos e silenciosos que cada um fez, com uma oração em nome de todos,
e todos confirmam o seu “Amém”.
Em seguida,
Deus vai falar, em um dos presentes é o seu porta-voz. Deus vai falar o que já
falou e deixou por escrito no seu Livro Sagrado, que todos possuem e procuram
ler todos os dias, para adaptar a vida aos seus ensinamentos.
Nas duas
primeiras leituras são os profetas e os apóstolos, principalmente, que nos
transmitem o que ouviram da boca de Deus. Diz o apóstolo Paulo: “Eu recebi
pessoalmente do Senhor aquilo que transmiti para voc^s” (1 Cor 11, 23). No
Evangelho é o próprio Jesus que nos fala através do sacerdote celebrante, não
importando a sua voz, a sua maneira de explicar a Santa Palavra. Alguma lição
todos podem e devem levar, para tornar melhor a vida pessoal, em família, no
trabalho, no lazer, na comunidade.
Depois da
profissão de fé vem a preparação da matéria para o sacrifício – o pão e o vinho
– matéria que Jesus escolheu na Última Ceia e que vão se tornar, pelo mistério
da transubstanciação, o Corpo e o Sangue do Senhor.
Preparada a
matéria, o sacerdote convida todos: “Orai, irmãos e irmãs, para que o nosso
sacrifício seja aceito...”, e depois de mais uma oração em que se pede que a
Missa nos renove, entramos, com a Oração do Prefácio, no íntimo do coração de
Deus, no Santo dos santos que, no Antigo Testamento, “constituía o lugar por
excelência da presença divina e só entrava nele o sumo sacerdote, uma vez por
ano, no dia da expiação” (Aquilino de Pedro).
Neste
momento, o próprio Jesus entra em ação e faz o sacerdote agir em Sua Pessoa.
Não é o sacerdote que transubstancia o pão e o vinho no seu próprio corpo e
sangue, mas no Corpo e Sangue de Cristo, embora o sacerdote diga: “Isto é meu
Corpo... este é o cálice do meu Sangue”. O sacerdote é como que possuído pelo
Senhor quando pronuncia estas palavras, e conclui, dizendo: “Fazei isto em
memória de mim, até que eu volte.”
Sim,
aguardamos a Sua volta. Chegará o dia em que estaremos lá, para o Juízo Final,
quando Jesus mandará separar “uns dos outros, assim como o pastor separa as
ovelhas dos cabritos, os bons à sua direta, os maus à esquerda. Vinde benditos de
meu Pai, porque todas as vezes que servistes e fizestes bem ao menor dos meus
irmãos, foi a mim que o fizestes; e aos da esquerda: afastai-vos de mim,
malditos, porque o que os bons fizeram, vós não o fizestes, e foi a mim que o
deixastes de fazer. Estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão
para a vida eterna” (Mt 25, 31-46).
Oxalá
possamos ouvir as palavras de Jesus dirigidas a nós: “Vinda, benditos de meu
Pai... Tudo o que fizestes ao menor dos meus irmãos, foi a mim que o fizestes.”
Eis o
mistério da fé, proclama o celebrante, e os fiéis, de dentro do santuário de
seu coração, continuam: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a
vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!” Morte, ressurreição, nova vinda. Ele
virá para nos levar consigo, se o aceitarmos.
O celebrante
lembra, diante de Deus, a morte e a ressurreição de Jesus, oferece-o a Ele,
porque está em suas mãos, agradece, suplica, pede pela Igreja, pelo Papa, pelo
Bispo, pela comunidade presente e não esquece os membros falecidos, momento em
que cada qual lembra dos seus, e, por fim, pede por todos os presentes, para
que Deus tenha piedade e lhes conceda um dia, em companhia da Virgem Maria, de
São José, dos santos apóstolos e na companhia de todos que O serviram neste
mundo, poderem louvá-lo e glorifica-lo por Jesus Cristo, a quem é dada toda
honra e toda glória agora, e esperam que assim seja por toda eternidade.
Na Missa,
Jesus vem a nós como alimento. Sabemos a maneira que Ele inventou para ser
nosso alimento. Nós acreditamos que o recebemos na Hóstia, que não é pão –
embora os sentidos nos enganem[1]– mas o
seu Corpo, isto é, a sua Pessoa.
Somos ainda
peregrinos e precisamos, e por isso pedimos o pão de cada dia, aquele que todos
conseguem com o seu trabalho; mas, junto com este pão vem o outro, o Pão da
Vida que, momentos depois, vamos receber com fé e devoção e com a alma limpa de
pecados graves. Jesus é o nosso viático.
Na Missa
Jesus vem, não para ficar só naquele momento, mas para ir, para ser levado em
nossos corações a nossas casas e viver dia a dia conosco a nossa vida, com tudo
o que nela acontece.
Após a
Comunhão, momentos de silêncio para que cada qual que recebeu Jesus na casa do
seu coração O adore e louve, e diga a Ele o que tiver para lhe dizer, de
agradecimentos e de pedidos.
A Missa
termina com um pedido para que se traduzam em nossa vida as graças que
recebemos.
Depois da
Missa, Jesus pede que façamos uma segunda comunhão: receber os outros, assim
como eles são, em nosso coração, porque todos querem ser recebidos assim como
são, por inteiro, cabeça e membros. Não faz sentido a comunhão com Cristo sem a
comunhão com os irmãos. Se esta não existe, não se pode fazer aquela. Seria uma
espécie de profanação. É como bater no Cristo aqui e ir beijá-lo ali. Quem comunga
o Corpo de Cristo, mas não comunga o “corpo” do irmão, não pense que está
fazendo uma santa comunhão.
O apóstolo
Paulo disse aos Colossenses (1, 18) que a Igreja é o Corpo do qual Jesus é a
Cabeça. Nós temos que comungar o Corpo inteiro de Cristo, e não só a Cabeça.
Talvez digamos, como o povo naquele dia em que Jesus afirmou que era necessário
comer a sua carne e beber o seu sangue (Jo 6, 51-60): “Esta palavra é dura.
Quem consegue escutá-la?” Receber em comunhão os irmãos? Mas eles são intragáveis!
(tragar significa devorar, engolir com avidez e sem mastigar, aguentar,
tolerar, e intragável é o contrário de tudo isto). Para que a nossa comunhão
com Cristo seja plena, precisamos comungar TODO o seu corpo, que é também a
Igreja, que são também os outros. Isto não significa que entre nós não deva
existir a correção fraterna, feita com amor e humildade, porque todos erramos.
Diz o apóstolo das gentes: “Nada façais por ambição ou vanglória, mas com
humildade, cada um considere os outros superiores a si e não cuide somente do
que é seu, mas também do que é dos outros. Haja entre vós o mesmo sentir e
pensar de nosso Cristo Jesus, que despojou-se, assumindo a forma de escravo e
tornando-se semelhante ao ser humano” (Flp 2, 3-11). Daí podemos perceber que a
santa Missa é algo comprometedor de que não podemos fugir, se dela quisermos
participar.
Muito
cuidado para não banalizar o que de mais sagrado e precioso a Igreja tem. A
Missa é o Mistério da fé, como anuncia o celebrante logo após a Consagração,
mas é um Mistério no qual podemos entrar, porque Deus não fecha o seu Coração.
Podemos ir entrando dentro deste Mistério e ir descobrindo suas belezas
insondáveis, inexplicáveis, que nossas palavras não podem conter. Para tanto,
requer-se o recolhimento, o silêncio. Não é no barulho que se entra ali.
A cada qual
que procura entrar neste Mistério, Deus revela coisas especiais. Daí a razão
por que as pessoas que participam realmente da santa Missa saem alegres,
felizes, de uma alegria e felicidade que não é desta terra, porque a Missa lhes
foi a fonte dessa alegria e felicidade que, silenciosamente, vão transmitindo
aos outros.
[1] “Embora os sentidos da visão, do gosto
e do tato enganem, não se enganam os ouvidos que acreditam com toda segurança e
nos dizem: Creio naquilo que ouvi, creio em tudo (aquilo) que disse Jesus. Nada
mais verdadeiro que a palavra da Verdade” (S. Tomás de Aquino).
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